Jornal de Liete_P, 07 ago 20

Olá @Liete_P, essas pulseiras ajudam muito na parte da motivação! Mas são aparelhómetros pouco rigorosos. Há quem continue a acreditar que o balanço energético do corpo se resolve com uma simples conta aritmética. Vou tentar explicar de forma simplificada porque é que isso é pouco fiável. Os defensores da TEORIA das calorias limitam-se a repetir até à exaustão o velho mantra do emagrecimento dos anos 60: "come menos e mexe-te mais". "come menos e mexe-te mais". "come menos e mexe-te mais". Não dizem mais nada! O que não o torna mais verdadeiro. No entanto, se olhar à sua volta, em termos de emagrecimento, é o conselho nutricional mais ouvido em toda a parte. "Come menos e mexe-te mais" vai resolver todos os seus problemas! Só que não resolve. E no fim, se não conseguir emagrecer, a culpa é sua porque é preguiçosa ou porque fez mal as contas, afinal só tem que gastar mais calorias que as que ingere. Dizer "come menos e mexe-te mais" não explica porque engordamos, só descreve o que acontece. É uma redundância. Em termos lógicos é o equivalente a dizer que a carruagem do metro está cheia porque entram mais pessoas do que saem. O que os fãs da teoria das calorias não compreendem, é o que está por trás desta "lógica da batata" sem sentido nenhum, que se resume a uma pergunta muito simples: porque continuam a tentar entrar mais pessoas numa carruagem cheia? A resposta não é fácil mas tem muito mais a ver com bioquímica do que física, posso assegurar-lhe. Nós engordamos porque tudo o que comemos contém informação que o corpo descodifica e por isso engordar é um sinal HORMONAL e não calórico. Nós engordamos porque o que comemos diz ao corpo para engordar. Mas pronto, não quero fugir do tópico! Vamos lá ver, tudo o que envolva contagem de calorias implica estimativas e é impossível saber com exactidão quantas calorias 'entram e saem'. E acredite, as que saem, são ainda mais complicadas que as que entram. O "calories out" abrange o nosso metabolismo basal (BMR) ou gasto energético em repouso (REE), e o gasto energético em actividade (NREE), que é dividido em termogénese da actividade em repouso (NEAT), efeito térmico da comida (TEF) e termogénese da actividade em exercício (EAT). O primeiro problema com o "calories out" é que não podemos calcular nenhum destes valores. Por exemplo, qual é o seu BMR? Sim existem equações para chegar a um valor mas o resultado vai estar sempre errado porque não tem como saber com certeza. E a NREE? Igual, apesar de em termos académicos ser tudo muito interessante, estamos a falar de variáveis impossíveis de calcular com o mínimo de exactidão e portanto, totalmente desconhecidos. E o TEF? Há tantos factores que influenciam o efeito térmico da comida, o que o torna infinitamente variável e por isso, uma vez mais, impossível de calcular. Já o EAT, pode usar uma pulseira de actividade e contabilizar passos, etc. mas o resultado continua a ser impreciso. Vamos agora olhar para o "calories in". Mesmo que pese tudo com rigor, é impossível saber exactamente quantas calorias está a ingerir. Crú ou cozinhado? Assado ou cozido? E as variações bioindividuais na digestibilidade? Há inúmeros factores a ter em conta e os valores, uma vez mais, nunca serão rigorosos. Mesmo sendo aproximados, poderá falhar 15 ou 20%. Portanto, não sabemos realmente quantas calorias estamos a ingerir, e não sabemos quantas calorias estamos a gastar. O que torna a noção do "eat less move more" bastante inútil. O 2º problema com as calorias, é que o que acontece com as calorias, depende muito do tipo de calorias. Por exemplo, imagine um clone seu. Ambos comem 2000 kcal /dia. Um de vocês come 2000 kcal de proteína pura (claras de ovo, peixe branco e whey em pó). O outro come 2000 kcal /dia de hidratos e gordura (bolos de pastelaria). O que acha que vai acontecer aos 2 com o avançar no tempo? À sua composição corporal? Como se vão sentir? O que vai acontecer ao lado do "calories out" da equação? Vão existir diferenças radicais seguramente, mesmo com um aporte calórico idêntico. Portanto, uma vez mais, contar calorias torna-se inútil. Por último, o terceiro e maior problema das calorias. Imagine que sabes exactamente o seu "calories out", o seu BMR e a sua NREE e todo o conteúdo calórico da comida que comeu ontem e na semana passada. Agora peço-lhe para comer exactamente o mesmo mas apenas metade. Vai perder peso, claro. Mas também vais esfomear o seu corpo até à quinta casa porque está a comer a mesma comida que come habitualmente até à saciedade e portanto, tentar comer apenas metade nunca irá resultar a longo prazo. No que toca às recomendações dietéticas existem duas abordagens: focarmo-nos na quantidade (calorias) ou focarmo-nos na qualidade da comida que comemos, prestando atenção aos macronutrientes. Na minha opinião faz muito mais sentido focarmo-nos naquilo que comemos em vez da quantidade daquilo que comemos, porque o que importa a longo prazo é a saciedade por caloria. Se eu comer alimentos com pouca saciedade por caloria, quase de certeza que irei comer mais calorias do que preciso. Ao contrário, se eu comer alimentos com muita saciedade por caloria, tornar-se-à praticamente impossível comer mais do que preciso. 

Olá João! Obrigada pela explicação, eu estava exactamente a salientar que este tipo de monitor não apresenta resultados que possamos considerar fidedignos!  

Tal como dizes a parte motivacion é uma ajuda, ela vibra sempre q estou 1h parada... Como tenho um trabalho de escritório, era capaz de passar uma tarde sem me levantar, agora tento levantar-me mais. Nem que seja ir até ao WC pelo caminho mais longo! 🙂